Surge este post da leitura de um genial artigo de opinião do Francesco Alberoni, intitulado “Para nos mantermos sempre jovens temos de abrir o coração e a mente“.
Nesta brilhante peça, o autor relembra algumas verdades essenciais da vida, elencando de forma sistemática como se pode envelhecer com talento.
Envelhecer é um tema pouco popular nas sociedades modernas, que cultivam a “eterna juventude”, o hedonismo fácil e o culto do corpo perfeito.
A palavra “velho” é vista como depreciativa, e o tema envelhecer é sistematicamente conversado como se fosse uma antecâmara de uma qualquer situação depressiva. Muito provavelmente porque se encara o envelhecimento como um processo de degeneração, uma “caminhada para o fim”.
Ora bem, é nestas alturas que me recordo de uma frase que um tio meu usava: “envelhecer é a única maneira conhecida até hoje de viver muito tempo”.
Pois é, esta é uma velha e sábia verdade que permanece actual, sendo que o mais importante da mesma é a palavra viver.
Alberoni refere no seu artigo que envelhecer é evoluir. Nada mais certo. E por isso mesmo não tem de ser uma coisa má. Apenas a vemos assim porque nos agarramos ao passado, a uma imagem de perfeição da juventude e nos recusamos a lidar com as transformações que vamos vivendo.
Na verdade, à medida que envelhecemos, ganhamos experiência e sabedoria, ganhamos serenidade e distanciamento, o que nos permite por exemplo tomar melhores decisões em menos tempo ou aprender com maior facilidade, uma vez que ancoramos as novas aprendizagens no conhecimento até então acumulado.
É por isso que voltar à escola já com alguns cabelos brancos pode ser uma aventura emocionante, como já testemunhou entusiasticamente o meu amigo Pedro Rebelo, que após ceder às solicitações dos chatos dos amigos (entre os quais eu), lá voltou à universidade para acabar a licenciatura e está a gostar (e muito!). Eis um bom exemplo de como se pode envelhecer/evoluir com talento 😉
Mesmo a natural diminuição de velocidade com que as nossas sinapses neuronais processam a informação pode ser compensada com a acumulação de experiência: a isso chamamos estratégias de compensação. Recordo-me a propósito da história do famoso pianista que, querendo continuar a tocar apesar da sua avançada idade, adoptou a estratégia de reduzir o seu reportório a meia dúzia de peças, as quais praticava religiosamente todos os dias e as quais tocava num compasso imperceptivelmente mais lento do que era suposto. Com esta estratégia de compensação, tocou até ao fim da sua proveitosa vida.
Isto implica a sensatez de perceber os nossos limites mas também a ousadia de aceitar as nossas potencialidades. Ao acreditarmos que somos capazes de ir mais longe estamos a “exercitar-nos” nas nossas capacidades de realização, o que aumenta a nossa potencial longevidade funcional.
Por isso devemos envelhecer cultivando algumas características que temos desde crianças: a curiosidade, a alegria da descoberta e da aprendizagem, a abertura de espírito, o gosto pelos relacionamentos e o bom humor.
No fim do dia, todos eles são condimentos do talento…
Nos últimos tempos tenho participado em vários almoços e jantares de convívio entre velhos colegas de escola ou de associativismo estudantil. Revemos caras que não víamos há mais de 20 anos e espantamo-nos como o tempo passou depressa.
Curiosamente… achei imensamente divertido! De facto, dou por mim a constatar que envelheço com alegria, pois acumulo muitas histórias para contar e sinto que hoje sou uma pessoa melhor que fui no passado.
Saber assim envelhecer com um espírito jovem é um privilégio do qual não deveríamos abdicar: acreditem que é muito gratificante e produtivo.
São muitos os exemplos em que nos poderemos inspirar para envelhecer com talento:
- Entre os já desaparecidos, gostaria de destacar exemplos como os de Carl Sagan, Albert Einstein, Raul Solnado ou Vasco Granja;
- Entre os que ainda estão connosco, ocorrem-me nomes como os do incansável Mário Soares (com as suas sonecas), Manuel de Oliveira, Adriano Moreira, Mário Murteira ou a sempre alegre e dinâmica Márcia Trigo (para mais exemplos cf. meu post “O Talento não tem Idade“)
Não quero por fim deixar de referir os meus mais importantes exemplos: os meus pais. Com uma idade já avançada, ainda namoram com alegria e ainda permanecem curiosos e interessados face ao mundo, apesar das contrariedades da idade. Vivem a vida com alegria e com os olhos sempre postos no futuro. São sem dúvida os meus “heróis de todos os dias”.
Saibamos ser assim ao longo do tempo;-)
Votos de boa reflexão!
Caro Ricardo,
mais um “artigo” inspirado e inspirador!!
Não podia estar mais de acordo contigo nesta tua reflexão. Um tema importante é o do papel dos media na “venda” da imagem perfeita o do que é necessário para a alcançar. enfim ….
Por outro lado há a realçar a “fragilidade” e consequentemente e receptividade do comum dos mortais a tais solicitações!
Bom, obrigado pelo tema sugestivo e vamos combinar um almoço!!
abraço,
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Amigo Miguel: é bem verdade! A responsabilidade cívica e social dos media e “opinion makers” é muito grande.
É por isso que nestes tempos da web 2.0 temos a oportunidade única de ajudar a inverter a tendência!
Vamos a esse almoço! Depois da Páscoa?
Abraços,
Ricardo
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Ricardo, posts sempre cheios de verdades dando por mim a soltar pelo menos uma gargalhada de boa-disposição e constatação perspicaz de factos 🙂 Dos ilustres que dizes só tenho pena realmente de Carls Sagan não ter tido tanto tempo para envelhecer como os outros… 😦
Grande Abraço!
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Amigo João,
Se te fiz soltar uma gargalhada, já ganhei o dia 🙂
Concordo contigo: o bom Carl Sagan deixou-nos cedo demais e sentimos bem a falta dele!
Abraço amigo do
Ricardo
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Ótimo post, recomendei-o no twitter. É preciso, como voce mesmo diz… cooperar para inverter a tendência.
Parabêns.
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Obrigado pelo feedback Lenita.
Espero que continue a ler o Mentes Brilhantes 🙂
Abraços,
Ricardo
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